As perguntas da praxe e os conselhos parvinhos. Ou vice versa...

Pouco tempo depois de largarmos a bomba publicamente e de toda a gente já saber que já demos o nosso contributo para os censos do ano que vem, começamos a tomar contacto com toda uma nova realidade que até à data desconhecíamos: os progenitores de bancada. E não pensem que o paralelismo com os treinadores de bancada é apenas uma analogia jucosa... De forma alguma. Tal como os treinadores de bancada esta espécie também dedica grande parte do seu tempo a opinar (vulgo "mandar bitaites") sobre uma matéria que, regra geral, desconhece parcial ou totalmente. Este fenómeno tende a acontecer ainda mais junto do pai da criança, e chega sempre naquele tom complacente de quem sente que, sem aquele conselho, aquela pessoa iria deixar falecer o filho ao fim dos primeiros 3 minutos de vida.

Obviamente que também há opinadores bem informados e úteis, mas para já, e para efeitos humorísticos, vou deixá-los de parte, e resumir aqui apenas alguns membros integrantes dessa espécie (não muito) rara que são os progenitores de bancada:

O PESSIMISTA - Teve uma péssima experiência, acredita que toda a gente teve uma péssima experiência, e a única coisa que te sabe dizer é: "Prepara-te, porque é uma péssima experiência!", descrevendo-te em seguida como vais passar não sei quantos anos sem dormir, por quantas depressões pós-parto é que a mãe da criança vai passar, e quantas patologias neonatais a criança pode contrair mesmo antes de sair da maternidade.

O COMENTADOR DO ÓBVIO - Aquela pessoa que tem sempre um conselho super útil para dar: "Ela agora tem que comer como deve ser", "Ela agora tem que ter cuidado para não se constipar", "Têm que ir ao médico para ir acompanhando" ou "Quando a criança nascer vão ter que lhe dar de comer e depois trocar as fraldas quando ela se borrar toda até às orelhas".

O QUE PAPA TUDO O QUE VÊ NA INTERNET E DEPOIS TE JULGA - Aquele sujeito que não só absorve tudo aquilo que lê online, como depois faz comentários acusadores do género: "A sério que ela vai comer sushi?", "Ela não devia pintar o cabelo!", "O quê? A criança vai dormir numa alcofa??" ou "Vocês sabem que essas chuchas matam não sabem?". Geralmente não gosta das respostas e vai para casa a dizer que devíamos ser proibidos de procriar.

O EXPERT - É aquela pessoa que nunca teve filhos mas que opina como se fosse não só o progenitor mais experiente à face da terra, como também o diretor clínico do Hospital Dona Estefânia. Torna-se muito difícil dar exemplos neste caso pois a vastidão de conhecimentos desta criatura estende-se desde a neonatologia até aos cuidados básicos de saúde, passando pela pedopsiquiatria, pela educação infantil e pela terapia familiar. É um autêntico poço de sabedoria, e os seus conselhos desinformados e inexperientes vão ser tão úteis na vossa vida como um estojo de maquilhagem num fato de mergulho.

Estes espécimens são também muitas vezes os autores de uma série de perguntas da praxe que lhes encaixam que nem uma luva, como por exemplo: "Então e o que é que vão fazer ao cão e ao gato?", "Vão batizar a criança não vão?" ou "E depois como é que vai ser com os vossos trabalhos?".

É óbvio que cada um lida com estas coisas da forma que quer... Uns respondem ou refutam calmamente, outros insurgem-se... O meu conselho? Diz a tudo e a todos que sim... Nunca te esqueças que ainda podes vir a precisar de alguém com quem deixar a criança num domingo à tarde para ires à bola.