A pergunta dos 100.000 Euros (ou do “Epá, deixa-me!”)
Durante todo o
período de desenvolvimento da criança na barriga de sua mãe, são várias as
perguntas que se ouvem até à exaustão. “Estão ansiosos?”, “Quando é que nasce?”,
“Têm preferência?”, “Já escolheram nomes?”, “Como é que foram fazer um
disparate destes?”… Enfim, são muitas
as perguntas que se repetem vezes e vezes sem conta. Mas há uma que se destaca.
Há uma pergunta que, em qualquer circunstância, serve para iniciar ou dar continuidade
a uma conversa de circunstância (vulgo “de chacha”) com a grávida ou com o pai
da criança e que, por nunca comprometer, é repetida até mais não: “Então e é
menino ou menina?”.
A verdade é que
esta pergunta acaba por se tornar mais massacrante, não por ser colocada vezes
sem conta por terceiros, mas sim por ser das maiores curiosidades e ansiedades dos
próprios progenitores da criança. Pois que uma
pessoa precisa de saber com a maior antecedência possível se há-de começar a
comprar chuteiras e carrinhos telecomandados, ou se por outro lado se abastece
de um stock significativo de tacos de baseball e caçadeiras de canos cerrados.
Em termos
práticos, esta incerteza é realmente um bocado chata. Senão vejamos: decorar o
quarto, comprar roupa, comprar acessórios, escolher um carrinho… É que por muito fãs que
sejamos dos neutros, a coisa não é fácil, porque das duas uma, ou vai tudo
corrido a neutros até chegarmos a um ponto em que olhamos para dentro do quarto
e aquilo parece a sala de estar de um hospital psiquiátrico, ou fiamos-nos na
análise ultra científica da nossa tia-avó que nos diz que pela cor das unhas
dos pés vamos ter uma menina, compramos tudo cor de rosinha como manda a
tradição, e depois vem um rapaz e o desgraçado passa os primeiros anos de vida
num carrinho fuchsia com uma sombrinha rendada.
E depois há a
questão das preocupações emocionais… Vai ser um rapaz e andar sempre todo
escangalhado? Vai ser uma menina e vai ter sempre boas notas? Vamos jogar à bola
ou vou passar os serões a ser penteado e maquilhado? Vou estar sempre
preocupado que ele esteja a faltar às aulas ou que ela ande com um galifão
qualquer atrás dela?
Pois que não se
apoquentem, que esta espera geralmente “só” dura umas 15 semaninhas. Regra
geral é por volta desta altura que as criaturas se deixam ver. Algumas umas
semanas antes, outras, mais envergonhadas, umas semanas depois, mas regra geral
não foge muito disto. O mais tardar na ecografia morfológica (aquela grande
entre as 20 e as 22 semanas) o suspense acaba-se e já se consegue ter a certeza
se vem aí um “menino da mamã” ou uma “menina do papá” (mais uma daquelas peças
fascinantes de sabedoria popular oferecidas por parentes sexagenárias cujos
beijinhos ainda hoje picam, mesmo por cima da tua farta barba).
Para os que
tomaram partidos, é o momento da grande alegria ou do grande “sorri e festeja
na mesma, que senão parece mal”, pelo que uma preparação antecipada para a
possibilidade de não ser o que nós queremos é vivamente aconselhada (é que para
este não deu para pedir talão de troca).
De qualquer das
formas o momento da descoberta do sexo é, sem dúvida, dos mais emocionantes de
todo o processo da gravidez, por isso, se não querem dar uma de pussys, digam
que estão com uma infecção qualquer nos olhos logo assim que entrarem no
gabinete.
A partir daí é
começar a satisfazer a curiosidade da malta e a ver vestidinhos fofinhos e
espingardas de pressão de ar, ou calças com joelheiras e bons explicadores de
matemática.
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