O fenómeno dos paizinhos de bancada


Aviso já, sem qualquer tipo de modéstia ou pudor, que considero este post como um serviço público que estou a prestar aos meus (3) leitores, por isso, caros amigos, fait muita attention.

No decorrer da gravidez preparam-nos para tudo: para o choro, para o cocó, para o chichi, para o banho, para o vestir e despir, para os gastos, para o deixar de conseguir ir à bola, para o deixar de conseguir ir treinar, para as crises hormonais da mãe da criança, enfim, para tudo e mais um par de botas (que não podem ser muito caras, que agora as prioridades são outras)… No decorrer da gravidez só não nos preparam para uma coisa: para esse flagelo (infelizmente) incontrolável que são os paizinhos de bancada.

Não, a associação futebolística óbvia que estão a fazer não está errada. À imagem dos treinadores de bancada, esses cromos da bola que se apresentam no estádio todos os domingos ostentando orgulhosamente o seu fato de treino, o seu farto bigode, o seu transistor e o seu maço de SG Filtro e, como se de uma reencarnação do Bélla Guttman se tratassem, gritam de forma labrega a tática que levará os seus jogadores à vitória, como se eles lá em baixo os ouvissem e acatassem prontamente as suas ordens, também os paizinhos de bancada têm sempre um comentário a fazer, normalmente depreciativo e na maioria das vezes proferido num tom de julgamento e reprovação.

E desenganem-se aqueles que julgam que este tipo de comportamento vem apenas da malta mais velha e experimentada. O mais fantástico deste fenómeno é que se manifesta até em pessoas que claramente erraram na criação e educação das suas próprias crianças, ou que imagine-se, na loucura, nem sequer têm crianças ainda! Família, amigos chegados, amigos afastados, ou até aquela pessoa que andou connosco na escola há 20 anos e com a qual nunca mais falámos. Todos sentem que têm (o direito) de dar o seu contributo, da forma que mais os apraz.

Aos olhos destes seres iluminados pela sabedoria pueril, tu nunca estiveste, nem nunca estarás, preparado sequer para tomar conta de um ovo cru com dois olhos pintados na casca, quanto mais de uma criança. Estas pessoas dominam todos os tons do despropósito e vão utilizá-los a todos para questionar tudo aquilo que fizeres e todas as decisões que tomares em relação à tua criança… “Tantas vacinas?”, “A sério? Acordas a criança para comer? Olha que não se deve…”, “O quê, puseste a criança de lado? Que irresponsável!”, “Ainda é muito cedo para trazerem o bebé à rua!”, “Olha que os pés têm que estar para dentro do pano”, “Olha que a criança tem fome”, “Olha que a criança tem frio”, “Olha que a criança tem a cabeça pendurada”…

Na verdade, se não fossem estas criaturas, não sei o que seria das nossas crianças. Até porque quando elas não estão lá para dar os seus valiosos bitaites… Ah, esperem, as crianças até sobrevivem…

Para nós, homens, esta situação é ainda mais escandalosa, porque para além de “recém-encartados”, somos também isso mesmo, homens, o que deixa prever logo uma total inaptidão para tudo e mais alguma coisa.

Metáforas humorísticas à parte, este tema é bastante sério, visto que este tipo de conversas/posturas/comentários podem arruinar completamente o mojo dos pais menos confiantes. 

Posto isto, a solução cá em casa foi à moda do instagram: filtros, muitos filtros! O comentário/conselho interessa? A pessoa merece crédito? Tem filhos e são um exemplo? Está a tentar ajudar ou está apenas a armar-se ao pingarelho e a tentar mostrar que percebe mais da coisa do que vocês? E por aí fora… Tudo o resto é fazer como a Rainha: sorrir e acenar! Caso contrário vais passar o resto da vida a jogar xadrez com pombos.

E uma coisa é certa: se a criança respira, está “gorda” (caaaalma, estão lá as aspas), faz chichi e faz cocó, alguma coisa vocês estarão a fazer bem, por isso mantenham-se confiançudos e REAMATEM CAR#$%O! DAÍ É REMATAR LOGO COM FORÇA PAH!

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