Os movimentos (ou a arte de transformar boas ideias em coisas imbecis)



Desde cedo que me comecei a aperceber que a grande maioria dos males deste nosso mundo advêm do mesmo problema: a incapacidade de alguns exemplares da nossa espécie de não exagerarem, de não terem as vistas curtas e de não levarem as coisas a extremos idiotas.

Este facto leva a que muitas vezes se transformem rapidamente coisas que à partida pareciam brilhantes em idiotices intoleráveis. Vejamos por exemplo as pizzas, que começaram com óptimas combinações de massa, queijo, tomate e pouco mais, e que já vão em torres de três andares onde se misturam bitoques, lasanha e bacalhau com todos… Ou o calçado confortável, que começou numa simples sandália em pele ou num chinelo de enfiar no dedo, e acabou nesse flagelo mundial que são os Crocs…

Obviamente, e como não poderia deixar de ser, o mundo das crianças também tem destas coisas, apenas com uma agravante: é um mundo maioritariamente populado por mulheres, esse ser dotado de um inestimável nível de teimosia e de uma capacidade inigualável de criar picardias e de se degladiar, imagine-se, com outros seres do mesmo género…

Está então montado o cenário para uma batalha épica, de trincheiras cerradas, das quais se arremessam fraldas cheias de cocó e babetes repletos de vomitado.

E tudo isto porquê? Porque ao contrário de nós homens, que regra geral fazemos o que nos apetece e o que achamos melhor e, caso nos cruzemos com outro homem que faça diferente limitamo-nos a soltar um: “Boa Zé! Fixe, essa cena.” (seja ou não “essa cena” do nosso agrado), algumas mulheres, e atenção, que eu utilizei a palavra “algumas”, ALGUMAS, sentem no seu âmago um ímpeto imenso para converter as outras à sua ideologia, descartando completamente a hipótese de que talvez haja outras formas igualmente válidas de fazer a mesma coisa ou de abordar o mesmo assunto. Quando não o conseguem pegam-se umas com as outras e a coisa dá merda.

Tudo isto abriu espaço ao longo dos tempos para o aparecimento deste fenómeno que são as guerras dos “contra” e dos “a favor” dos “Movimentos”… E isto dos “Movimentos” quer dizer o quê?

1 – Que hoje em dia não se põe uma criança num pano ou num marsúpio (e atenção à guerra entre ambos), pratica-se o “Baby Wearing”;

2 – Que já não há essa cena da javardeira à mesa quando se começa com os sólidos, participa-se no “Baby Led Weaning”;

3 – Que já não se toma duche com as crianças para despachar, pratica-se o “Co-Bathing”;

4 – Que já não se traz a criança para a nossa cama para ela se calar um bocadinho, adota-se o “Co-Sleeping”.

A lista seria bem maior, mais paciência eu tivesse para dedicar a este tema, mas o funcionamento da coisa é bem simples: tal como se estivéssemos a falar do Presidente do Sporting, se não estás de um lado estás do outro, e é bom que estejas disposto para renunciar a tudo o resto, caso contrário a malta crucifica-te… Ou pior… Processa-te.

O pináculo destas autênticas guerras de trincheira são, invariavelmente, os fóruns ligados a este fabuloso mundo da maternidade que, não poucas vezes, escalam a uma velocidade inacreditável do azul bebé e do rosa fúcsia para o preto carregado e para o vermelho sangue.

A única coisa boa no meio disto tudo? Como ninguém dá crédito nenhum ao pai da criança, nenhuma mãe ousa discutir ou argumentar connosco, limitando-se ao good old “Coitadinho, ele é homem, sabe lá o que é que está a fazer, nem lhe vou dizer nada… Deixa-me só apanhar a mulher dele…”. E assim nós vamos fazendo o que nos apetece e o que achamos melhor para a nossa criança sem ninguém a moer-nos a cabeça… Que na verdade, sem merdas nem estrangeirismos, é o que interessa… Ou não?

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