Um bebé e um relógio entram num bar




Por esta altura já todos sabemos qual seria à partida o desfecho óbvio de uma história com este título: o bebé senta-se atabalhoadamente ao balcão, manda abaixo 7 shots de Naan2, dá conta da presença do relógio, mete-o à boca, e era uma vez um Longines lindíssimo, que nunca mais na vida vai deixar de cheirar a azedo…

Porém não estamos aqui para desfechos previsíveis, caso contrário a pouca graça que isto já tem perdia-se por completo, e nós não queremos isso. Na verdade esta introdução pseudo-humorística serve apenas para abrir alas para um tema que cá em casa nos é muito querido, e que aprendemos a considerar como, de todos, talvez o mais importante: as rotinas.

Antes de mais nada, e porque nunca é demais reforçar isto, para depois não ter que levar com as brigadas do “não é bem assim”: o que se segue é uma opinião pessoal baseada em experiência própria. Não é uma teoria, não é uma regra, não é uma suposição de que deve ser sempre assim, não é uma lei, não é… bem, acho que já perceberam a ideia.

Antes de a nossa criança nascer ouvimos e lemos de tudo um pouco: desde o “os bebés devem poder fazer o que quiserem à hora que quiserem” até ao “não interessa se ele está a berrar desalmadamente, se não é hora de comer não come”. Como não somos pessoas de extremos sempre acreditamos que a coisa não era (ou não deveria ser) assim tão linear, e que o segredo deveria estar no equilíbrio e num balanço sensato das coisas.

E assim foi. Nas primeiras semanas, e tendo em conta que era toda uma nova experiência, as rotinas são sempre um bocado relativas, porque efetivamente a criança, embora possa ter um padrão, acaba sempre por comer e dormir/acordar, mais ou menos quando lhe dá na telha, até porque isso pode depender de outros fatores, como por exemplo o de ter que ir à mama de duas em duas horas, como de resto foi o nosso caso (o dela, não o meu, infelizmente).

No entanto, assim que as coisas começaram a encarreirar e se começaram a estabilizar hábitos (principalmente de alimentação), lá para as 3/4 semanas, achamos importante, ainda que não de uma forma germânica, começar a fomentar algumas rotinas de sono e alimentação (totalmente baseados no padrão que ela trazia de fábrica claro).

Inicialmente não é fácil… É um facto que, ao final de dois meses de sonos trocados, a paciência não abunda e às vezes é muito fácil chegar ao “não queres dormir/comer não dormes/comes pronto”, mas o que é facto é que a persistência compensa a curto/médio prazo.

A verdade é que os resultados são notórios em apenas uma ou duas semanas… Melhor sono, menos birras, melhores refeições e boa disposição quase constante. E isto tem, para nós, uma explicação muito simples: se soubermos “exatamente” a que horas aquele monstrinho vai ter fome ou sono, conseguimos estar em cima do acontecimento, ler os sinais que ele nos dá disso mesmo (que em muito pouco tempo se tornam óbvios), e não o deixar chegar ao modo Kraken. Ou seja, evitamos dois dos maiores pontos de stress da vida da criatura, tornando-a bem mais fácil, para ela e para nós, apenas porque já sabemos que:

- acorda por volta das 7h e pumbas, leite para o bucho logo
- lancha às 9h30, que já vai com duas horas e meia de trabalho
- faz a primeira sesta por volta das 10h, que isto de comer também cansa
- almoça por volta das 11h30, que às 12h os food courts já estão à pinha e já é uma chatice para arranjar mesa
- faz a segunda sesta das 12h30 às 15h para preparar a tarde
- lancha às 15h30 que é para não desferrar
- lancha outra vez às 17h30 só porque pode
- dorme das 18h às 19h para depois ir passear o cão pela fresca
- janta às 20h para ver as notícias
- banho, leite e cama às 21h30, que no dia seguinte é dia de trabalho e não está a dar nada de jeito na televisão

Parecendo que não isto tem um impacto considerável no dia a dia da malta. O facto de conseguirmos orientar a nossa vida com antecedência (ainda que adaptada às necessidades de outrem) e, acima de tudo, de não termos uma sirene dos bombeiros atrás de nós o tempo todo, contribui bastante para a manutenção da nossa sanidade mental.

Cá em casa consideramos que a introdução vespertina (que palavra tão linda) de rotinas foi a melhor coisa que fizemos à nossa vidinha. Ao final do primeiro mês a criança já começava a dormir certo (embora não seguido), aos 4 meses já estava no quarto dela, sempre encarou com muita tranquilidade todas as transições de sono e alimentação, chegando a hora dela come onde tiver que comer, dorme onde tiver que dormir (com ou sem barulho ou luzes) e, acima de tudo é uma criança que está constantemente tranquila e bem disposta (opinião de todos quanto se cruzam com ela, não só da orgulhosidade crónica dos pais babadões).

Tudo isto só tem um senão: quando olhas para os horários dos jogos do mundial começas logo a sofrer, porque vês logo que a maior parte dos jogos da seleção são a horas em que a desgraçada da criança está a dormir e por isso não vais poder fazer um granda chavascal cada vez que o Ronaldo meter uma granda batata de pontapé de bicicleta lá para dentro.

Comentários

Mensagens populares