Ó diabo! Você hoje vem com uma cara…
Quem nunca? Que
progenitor nunca chegou ao trabalho, à creche, ao café, ou, em último caso, ao
espelho e foi presenteado com este magnífico reality check, normalmente seguido
do prefixo: “Então, essa criança não o deixou dormir…”?
É um facto. Ter
uma criança pequena pode fazer com que todos os dias da semana pareçam a
segunda feira a seguir a um fim de semana de despedida de solteiro. Com fraldas
em vez de cuecas de renda, cocó em vez de charutos e leite em vez de whisky,
mas exactamente com a mesma dificuldade em voltar a ser um humano funcional
novamente. É toda uma manhã a procrastinar tudo o que haja para procrastinar, à
espera que o corpo perceba se consegue sobreviver ou não, para depois podermos,
enfim, retomar a nossa vida normal.
No nosso caso é
verdade que não nos podemos queixar de sobremaneira. A nossa criança nunca foi
de grandes touradas à noite. Regra geral bebe o seu leite, pega na sua chucha e
dorme. Se deixa cair a chucha procura-a e, se não a encontra, rabuja um bocadito
pela equipa de resgate mas, logo que se lhe enfia a rolha, volta-se para o lado
e ferra novamente. Felizmente a regra é adormecer e só voltar a dar sinal de
manhã.
Mas infelizmente
há exceções, e quando as há, parece que o universo sente necessidade de nos “compensar”
por todo o bem estar de que temos gozado… É que já não bastava o facto de, por
estarmos “mal habituados”, estas exceções nos custarem horrores, mas também,
quando acontecem, é sempre nas piores alturas, e com tudo aquilo a que temos
direito. É quase como se fosse uma caderneta: tu já trataste de imprimir as
páginas, com uma semana cheia de trabalho no escritório, gravações até às
tantas e uma pipa de Kms de carro. Agora é deixar o universo encarregar-se dos
cromos: primeiro atira-te um jantar um bocado mais agitado do que é normal,
seguido de um serão frenético alimentado por uma energia que parece nunca mais
acabar, uma tourada desgraçada no banho, fita para vestir e resistência para
adormecer depois do leite. Vais tratar do jantar, que entretanto ficou para
segundo plano, e mal começas a jantar (às 11 da noite) recebes outra saqueta,
que, desta feita, traz aquele cromo que faz parte de um conjunto de 3: o choro
estridente sem razão aparente que entra nos ouvidos como se fosse uma agulha de
macramé. A chucha não resolve. Mais um bocadinho de leite para acalmar. Nisto,
às quatro da manhã, ainda estás tu a acabar de colar o terceiro cromo do choro,
começas a sentir o universo a descolar lá de cima o cromo dourado master: m#rda
nos lençóis, cama feita de lavado. Chupa! E está quase composta a tua
caderneta, que só completas de manhã com um pijama para o lixo e um duchinho
forçado para tirar cocó do pescoço da criança que, entretanto, e como não poderia
deixar de ser, também alastrou aos teus lençóis…
Resultado pela
manhã: uma criança bem disposta (valha-nos isso), dois cadáveres e uma casa que
mais parece a botica do xexé…
Posto isto, para
todos aqueles pais que passam noites e noites seguidas de tormentas e privação
de sono, muitos deles durante praticamente toda a “recém-nascidez” das suas
crianças, aqui fica a minha palavra de apreço, força, coragem, e, hoje em
especial, um pouco de inveja, porque acho que se já estivesse habituado, isto
hoje não me estava a custar tanto… (brincadeirinha)
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