A problemática da impaciência e as coisas demasiado fofinhas.


Pronto, já contaste a toda a gente. O teu pai já verteu umas lágrimas e já só pensa em ir tratar do cartão de sócio do Benfas; a tua mãe já ficou histérica e até já te impingiu uma fatiota linda de morrer (eye roll) para vestires à criança para a saída da maternidade; o resto da família já deitou as mãos à cabeça porque este Natal já é mais um com quem vão ter que gastar dinheiro (cheira-me que nos espera uma primeira quinzena de Janeiro passada na caixa de apoio ao cliente da Primark a fazer devoluções); os amigos mais próximos já pularam de contentamento e já adiaram tudo o que têm a tratar em repartições públicas e similares para daqui a 9 meses, e todos os restantes conhecidos já te encheram de sorrisos amarelos e felicitações desinteressadas.

E agora?

Agora estás naquela que é provavelmente a pior e mais estúpida fase disto tudo! A descoberta ainda é recente e os teus níveis de concentração para tudo o resto (tipo o teu trabalho) ainda são muito baixos mas… Ainda não há barriga… Ainda não há sexo (da criança, javardos), por isso ainda não há nome… Ainda não se compra nada… Ainda não se tomam grandes decisões… É só ver, só pesquisar… É todo um aglomerado demasiado grande de coisa nenhuma, para uma pessoa que está com os níveis de ansiedade e de adrenalina parental no 1500. "Vou ser pai"! "Vou ter um filho"! "Contar a toda a gente"! "Ver carrinhos"! "Ver roupas"! "Ver creches"! "Dias de trabalho deitados ao lixo a pesquisar tudo e mais alguma coisa na Internet"! "Coiso…"! E depois nada… Um grande deserto de acontecimento nenhum, durante largas semanas. É de levar um homem ao desespero!

E depois há as visitas de fim de semana às lojas da especialidade… Nenhum homem merece o sofrimento atroz que é ter que pegar num babygrow do Benfica (esse sim) lindo de morrer, e imaginar que só dali a uns 7 meses é que vai ter com que o encher. É uma tortura ver toda aquela parafernália de roupas e acessórios e brinquedos fofinhos, e ainda não poder deitar a mão a nada, porque “ainda é cedo”. É demasiado penoso passares uma tarde inteira a magicar como transformar a tua varanda numa piscina, para depois chegares à conclusão que ainda não é este fim de semana que vais lá pôr o teu filho… Nem no próximo… Nem no outro a seguir… Ou talvez em nenhum mesmo, porque a tua mulher nunca te vai deixar transformar a varanda numa piscina.

Tudo isto leva a que tenhamos muito tempo livre para reflectir sobre o único assunto em que temos que começar a pensar a sério já: ruína financeira.

Obrigado e boa tarde.

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