Esse terreno tão inóspito que são as creches
Não estejamos com rodeios: para aqueles que não têm pais ricos e que não são clientes do BES (gargalhada sarcástica), o tema “creche” é talvez dos mais assustadores a nível contabilístico de toda esta nova aventura da parentalidade. O carrinho é caro mas pode ser emprestado, o berço é caro mas pode ser emprestado, as fraldas também são uma pequena renda mas já se conseguem encomendar online por quantias menos pornográficas, enfim… Há realmente algum dinheiro a gastar, mas é só na altura em que se começa a pensar na creche que se solta o primeiro grande “F#%$-se, no que é que nos fomos meter!?”.
Este martírio
segue, regra geral, um caminho muito semelhante em quase todos os casos, e normalmente não foge muito disto:
1 – Um amigo
(regra geral já experiente nestas andanças) lança a pergunta: “Então e já viste
de creches? Vai vendo disso, que se esperas muito depois não há vagas!”. Tu
respondes-lhe que ainda não e ficas a pensar que aquela pessoa é parva, porque
sabe perfeitamente que a tua criança ainda nem 6 meses fez na barriga da mãe, e
que é estúpido já estar sequer a pensar nisso;
2 – Ficaste a
pensar na história da creche e vais para casa fazer uma pesquisa, que rapidamente
te mostra que o estúpido és tu, e que te deixa com a ideia assustadora de que se
não reservas uma vaga numa creche nos próximos 7 minutos e meio, a tua criança
vai ter que passar a pré-infância no mato a ser cuidada por uma loba;
3 – O pânico está
instalado e começa a busca desenfreada.
Mas o que não vem
nos livros é que quando começa esta busca é que começa a verdadeira coboiada.
Senão vejamos: a pesquisa começa na internet, como é habitual, e os primeiros
resultados do google apontam todos para blogs e fóruns (esse outro território inóspito
que, de tão rico, um dia destes merecerá um post só para si) e daqui consegues
perceber o seguinte:
1 – Se vivem numa
grande metrópole, ou escolhem uma IPSS (que adequa a mensalidade aos rendimentos
do agregado familiar) ou então não podem contar com menos de 300€ por mês (nos
melhores casos) nas creches privadas;
2 – É impossível
fazer uma escolha tranquila baseada nos comentários, pois sobre a mesma creche
os comentários vão desde o “A minha mãe andou lá, eu andei lá, os meus filhos
andam todos lá e aquilo continua fantástico e maravilhoso.” e o “É um buraco
num vão de escada cheio de ratos e humidades, não punha lá nem um cão que tive há uns anos e que me roía tudo.”
3 – O estúpido és
efetivamente tu, e tens mesmo que te despachar com isso, porque, na maioria dos
casos (principalmente nas IPSS) as vagas esgotam com cerca de um ano de
antecedência, nos casos mais concorridos até com 2.
Quando finalmente
consegues fazer uma short list e começas as visitas, encontras um pouco de
tudo: desde o ambiente maravilhoso, carinhoso e bem equipado, até ao chavascal
digno de sketch com crianças a serem arrastadas pelo chão nas espreguiçadeiras por “auxiliares” que nem uma bata usam e que parecem saídas de um gang de
carteiristas; desde os sítios mais flexíveis e compreensivos, até
aqueles em que mais parece que estás a arrendar um T2 em Odivelas, em que te
obrigam a pagar uma mensalidade de caução, mais a primeira mensalidade e daí em
diante todos os meses até a criança realmente entrar (sim, isto quer dizer que
há sítios em que para garantirem a vaga te obrigam a pagar a mensalidade logo a
partir do mês da inscrição, mesmo que esta seja feita ao terceiro mês de
gestação, suck it up).
Resumindo, escolher
o sítio onde a criança vai receber grande parte das bases para o seu
desenvolvimento (sem pressão) não é brincadeira nenhuma, por isso aqui ficam
alguns bitaites pseudo-informativos que podem vir a ser úteis:
- As IPSS podem efetivamente
ser uma escolha mais económica sim, mas não, não são as creches dos pobrezinhos.
Muitas delas são bastante recentes, o ensino é tão profissional como em tantos
outros sítios, e basta vermos que, ao fim ao cabo, e dependendo do escalão dos
pais, podem custar tanto como uma privada. Aqui fica um artigo elucidativo
quanto aos cálculos: http://www.jn.pt/nacional/educacao/interior/dicas-para-ajudar-a-escolher-a-creche-para-o-seu-filho-4576417.html;
- Algumas
privadas têm a opção de horário parcial, que pode ser uma alternativa para quem
prefere que a criança só esteja na creche metade do dia, seja por uma questão
de preço ou por a avó não se calar que quer lá o netinho em casa (pelo menos) à
tarde;
- Atenção que os
preços iniciais que vos vão dar são quase sempre sem alimentação, fraldas e
outros consumíveis (cremes, pomadas e afins). Tendo em conta que não temos um
Furby, e que realmente eles vão precisar disso tudo, perguntem sempre os
valores destes extras, para poderem equacionar se vale a pena ou se mais vale
levar de casa (no caso dos bebés que ainda estão com o leite da mãe, por
exemplo, faz todo o sentido);
- Ler comentários
é bom, mas visitem SEMPRE. Não queiram descobrir tarde demais que a comida que
os vossos filhos vão ingerir é preparada no primeiro andar de um pombal;
- Mais do que os
sítios, conheçam as pessoas. De nada vos vai servir terem as crianças numa
creche que mais parece o Ritz Carlton, se eles estiverem a ser acompanhados por
uma educadora que parece ter nascido de uma noite de coboiada tórrida entre o
Grinch e a Angela Merkel.
- A sério, não
sejas estúpido, tratem disso o quanto antes (de preferência antes dos 4/5
meses).
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