O Parto II – Considerações a granel (a sequela que se exigia)
Escrever sob o
efeito de drogas (ainda que daquelas produzidas pelo nosso próprio corpinho) por
um lado é muita bom porque a coisa fica emotiva e saem coisas mais espontâneas
e assim, mas por outro lado é uma cagada, porque a sensatez e a frieza de
raciocínio desaparecerem quase por completo, ou senão vejamos o exemplo da
Maria Vieira, que escreve sob o efeito de drogas desde 1927…
Assim sendo, e
agora com a cabeça mais fria, decidi deixar aqui algumas ideias avulso,
relativas a este episódio inolvidável que é o parto da criança. Então aqui vai:
Ah, uma nota
prévia: acho que já referi isto vezes suficientes, mas nunca é de mais
reforçar, que é para quando um dia isto for uma publicação respeitável e vista
por dezenas de pessoas, não virem para aí ojhaters dizer que cada caso é um
caso e que eu não me posso guiar só por mim e blá blá blá Whiskas Saquetas: aqui
generaliza-se. Vão dar sangue.
Agora sim, aqui
vai:
Ah, só mais uma
coisa! Estava a reinar, vamos lá…
1 – Não vives numa
novela (não que tu vejas novelas e saibas o que se passa… daquelas que a tua
mãe vê e te conta). A probabilidade de acontecer aquele circo fantástico de estarem
num sítio público qualquer just chillin e de uma só vez as águas rebentarem,
começarem as contracções já lá no pico e a criança começar a pôr a cabeça de fora
é tão grande como a probabilidade de o Jorge Jesus vir a enveredar por uma
carreira na área das explicações de português. Regra geral as coisas são
graduais e levam o seu tempo (no nosso caso, por exemplo foram quase dois
dias).
2 – O teu
estômago é mais forte do que julgas. Como deves calcular o ato de tirar um ser
(ainda que pequenino) de dentro de outro, envolve algumas manobras menos
agradáveis à vista. E não, não é como daquela vez que viste um gajo a vomitar
no meio do sintético porque foi jogar depois de ter ido ao Mc… É um bocadinho
pior que isso. Mas a verdade é que, ainda que da perspectiva do pai da criança
ainda dê para evitar ver muita coisa (a não ser que tenhas alguma tara
esquisita e queiras mesmo lá ir enfiar o nariz nas alturas mais sensíveis,
correndo o risco de depois disso já não o conseguires fazer com mais nada), há
coisas que, pela proximidade que se exige, não dá para não ver. Mas calma, que
há uma parte boa: vais descobrir que os teus entrefolhos são bem mais resistentes
do que o que julgavas, e ao fim de meia hora de ali estarem o teu cérebro já
se adaptou, e já nada te faz grande confusão. Nem quando te trazem a
placenta numa bandeja e te perguntam se queres levar para cozinhar.
3 – Nem todas as
maternidades públicas são buracos escuros frios e assustadores, dignos de uma
sequela do SAW. Antes pelo contrário. A regra hoje em dia é a contrária. No São
Francisco Xavier fomos instalados à chegada num quarto/sala bem acolhedor e
confortável, amplo, climatizado, com uma cama grande para a mãe, uma poltrona
reclinável para o acompanhante, bola de pilates para os exercícios de pré parto,
um computador para podermos por um pen com música se quiséssemos… Não faltava
nada. E foi ali que ficamos, e foi ali que a criança nasceu, tal como era
suposto. Na maior das tranquilidades e dos confortos. SNS a marcar pontos. Thumbs
up!
4 – Os enfermeiros
são nossos amigos! Chegamos com algumas “reservas” pois a nossa criança nasceu
mesmo a meio das greves dos enfermeiros especialistas. Tínhamos algum receio de
ser menos bem tratados ou, na pior das hipóteses, de não sermos tratados de
todo e termos que ir para outro lado. Nada disso. Os enfermeiros não só estão
SEMPRE lá como são, sem dúvida nenhuma, a peça mais importante no nascimento de
uma criança. E nós podemos afirmá-lo com propriedade, porque apanhámos 3
turnos. Incansáveis, atenciosos, meigos, disponíveis, faltam-me os adjectivos.
Tiram dúvidas, acalmam, ensinam… Enfim, tornam tudo muito, mas muito mais
fácil. E a verdade é que, se não houver qualquer complicação no decorrer do
trabalho de parto e do parto em si, tu não vais ver um único médico, porque são
eles que fazem tudo. Thumbs up, bem up, para eles!
5 – Não te guies
pelas “histórias” dos teus amigos. Os partos são todos diferentes.
6 – O parto não
tem que ser doloroso e pode ser bastante rápido (no nosso caso foi indolor e
durou menos de 5 minutos).
7 – As crianças
só nascem lindas e maravilhosas (e já com 2 meses) nos filmes. A tua criança
vai sair muito pequenina e cheia de sangue e outras porcarias. E não, não te
vai custar nada.
8 – Se a criança
nascer num hospital público e fora do horário das visitas, ao fim de duas horas
vão correr contigo para casa. É uma merda, mas é assim. E não vale a pena
esperneares. Acredita, eu tentei…
9 – Por muito que
te tenhas preparado mentalmente e te aches à vontade, nos primeiros momentos
com a tua criança ao colo vais parecer o Dwayne Johnson no Fast&Furious,
nem os bracinhos vais conseguir dobrar em condições.
10 – Todos aqueles
programas híper machos que fizeste para quando saísses da maternidade? Que ias
ligar ao Zé e ao Artur e que ias para os copos e apanhar uma granda narsa para
celebrar… Esquece. Não vai acontecer. Vais sair direito ao McDrive mais
próximo, vais enfardar 3 menus (porque parecendo que não, não comes há quase 48
horas) ali mesmo no parque de estacionamento, que é para nem teres que sair do
carro, e vais para casa cagar (que é outra coisa que não fazes há horas) e
falecer. É muito isto.
11 – Pede para te
ligarem até tu atenderes, programa 50 despertadores, amarra o telemóvel à
genitália, faz o que entenderes, mas tem um plano B para o despertador no dia
seguinte. Se não te precaveres é certo e sabido que vai dar merda. Não vais
acordar, vais-te atrasar, e vais dar razão a todos aqueles que durante 9 meses andaram
a dizer: “Aquele gajo? Pai? lol…”.
E é isto… Agora
desculpem-me, mas tenho que ir ali limpar cocó.
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