Sobre os homens e os ratinhos (sim, vamos falar da primeira noite em casa)
Já passaste por 9
meses de gravidez. Já passaste por umas horinhas de trabalho de parto. Já
assististe a uma expulsão mais impressionante que as do Fernando Aguiar e dos 3
centrais do Canelas todas juntas. Já foste corrido de uma maternidade e
obrigado a deixar a tua mulher e a tua criança recém nascida para trás. Já
foste para a cama logo a seguir a mamares 3 Big Macs. Já tiveste que aprender a
acolher nesses braços desajeitados e nessas mãos cheias de calos (do Crossfit
seus porcalhões) um ser com pouco mais de 3Kg. Pensavas que o pior já tinha
passado… “A partir de agora é sempre a rasgar”, pensavas tu…
Tão errado…
A realidade é que
não há serviço militar nem curso de sobrevivência neste mundo frio e cruel que
preparem um homem para aquilo que são as primeiras horas que passa em casa com
a sua primeira criança, principalmente para a primeira noite. Esta é uma
daquelas alturas na vida que separam os homens dos ratinhos, e a verdade é que
99,9% de nós chega a meio desta noite já a sentir-se um pequeno e desnutrido roedor,
incapaz sequer de cravar as favolas num pedaço de queijo suíço que está mesmo
ali à frente.
Tudo te vai
passar pela cabeça… Estará calor? Estará frio? A criança terá fome? Estará a
mamar bem? Será melhor dar-lhe suplemento? Quererá uma canjinha? A cama será a
adequada? Estará devidamente nivelada? Estará a forçar demasiado o pescoço? E
se bolsa? E se se engasga? E se ela deixa de respirar? Será que está a respirar
agora??? Será que a magoo se lhe pegar assim? Ai valha-me Deus que ela está a
chorar e não há nenhuma enfermeira num raio de 10Km…
É o verdadeiro pânico.
E sim, é bem possível que antes da uma da manhã já estejas a bufar pelas juntas
todas.
Claro está que,
enquanto isto, a criança dorme perfeitamente tranquila e a sua mãe assiste,
impávida e serena (e com algum regozijo, diga-se de passagem) à tua
auto-combustão.
A verdade é que,
para o bem e para o mal, a mãe da criança já passou algum tempo sozinha com ela
na maternidade (pelo menos duas noites, se tiver nascido no público) e por isso
já te leva um grande avanço e já está bastante mais à vontade do que tu, que a
primeira noite que tens é já sem rede. Por isso sim, é normal estares à rasca, e não, não é vergonha nenhuma, nem tão pouco quer dizer que não estás preparado ou que vai
ser sempre este suplício.
Se quiseres
resolver o problema com uma terapia de choque bem agreste, oferece-te para
ficares tu ao lado do berço na primeira noite, para seres tu a tratar de tudo o
que não envolva mamas, e para a mãe da criança poder descansar como deve ser.
Vai ser uma tormenta dos diabos? Ah vai… Vai ser pior do que aquela vez que tiveste
que andar no comboio da linha de Sintra? Também não exageremos… (acreditem, eu
experimentei as duas coisas) Mas uma coisa é certa, depois disso, quando os
primeiros raios de sol te começarem a esfaquear ojolhinhos, a mãe da criança acordar de vez, e tu perceberes
que, ainda que completamente esfrangalhado do corpo e dos nervos, sobreviveste
àquilo, tudo te vai parecer mais simples, e a partir daí sim, “vai ser sempre a
rasgar”.
Força nisso
camaradas, que como diz o povinho ordinário: só custa a primeira vez.
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