Adeus Dominic Toretto, olá dona Custódia



Ainda que discorde totalmente dessas vozes fatalistas que para aí andam e que dizem que com a chegada de filhos tudo muda, sou forçado a admitir que algumas coisas mudam mesmo, e uma delas é, invariavelmente, o teu carro. E nem me refiro à fatalidade suprema de trocar um super desportivo descapotável de dois lugares que atrai as atenções de mais mulheres do que um post da Pipoca Mais Doce, por um monovolume de portas deslizantes que paga classe 1 nas portagens… Ainda estamos na fase do que muda no teu carro actual e na relação que tens com ele…

Primeiro começamos com uma simples “arrumação” e assumimos a passagem do cão do banco de trás para o porta bagagens. Até aqui tudo bem, o carro já estava cheio de lixo mesmo, e tirando a chapeleira o porta bagagens até é grandito.

Entretanto com isto tudo percebes que o carro está um nojo (sabe-se lá porquê, tendo em conta que não o mandas limpar há uns 3 anos). Ele é areia, é pelos, é baba, é migalhas… Parece que andaste a usar o carro para pastorear um rebanho de cabras. Não vais enfiar ali a tua criança… Vamos lá mandar fazer uma limpeza de detalhe a isto. E pronto, carro como novo. Literalmente. Não sei que magia é aquela, mas esta malta vai sugar porcaria até às fendas das calhas dos bancos. A viatura fica im-pe-cábel! O que é ótimo, tendo em conta que vamos precisar de todo o espaço que conseguirmos arranjar para acumular leite azedo bolsado e migalhas de bolachas.

Mas vá, até aqui até é bom. Carrinho limpinho, sem lixo, a cheirar a novo… Maravilha! E pimbas, levas a primeira chibatada: uma cadeirinha no banco de trás! E de repente começas a sentir o teu fórmula um mais como um fórmula 3.

Depois da cadeirinha, e para precaver, fazem-te pregar com um tapa sol no vidro, para garantir que a criança não vai a torrar… Com um bocado de sorte não é da Hello Kity. E, de repente, da fórmula 3 passamos para um fórmula indy com a direção meio desalinhada.

E aí chega a dolorosa conversa… “Tens noção que agora vais ter que moderar essa tua condução… E começar a fechar essas janelas… E pôr essa barulheira distorcida que tu ouves, mais baixo…”. É o fim da linha. Estás a um CD da Xana TokTok e a um autocolante a dizer “Bebé a Bordo” de distância de transformares aquele bólide versão sport que nunca baixava dos 140Km/h e no qual se viajava de cabelos ao vento e White Stripes aos berros, numa versão citadina da Carrinha Mágica, conduzida pela Betty Grafstein.

E pronto… Acenas que sim com a cabeça enquanto mordes os lábios para não chorar, a conversa termina, sais do carro, deixas a mãe da criança ir andando e, de surra sem dar muita bandeira, passas-lhe a mão pela carroçaria (do carro, não da mãe da criança seus porcos) enquanto recordas por uma última vez todas as loucuras rodoviárias que viveram juntos e lhe prometes em surdina, para o sossegares, que, enquanto fores vivo, não irás permitir que entrem ali CD’s da Xana TokTok nem autocolantes a dizer “Bebé a Bordo”. Isso nunca!

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