Tétris pré-balnear, o Adamastor das férias



Tiveste um ano em cheio desde o longínquo verão passado. Final de gravidez, parto, “recém-nascidez”, licença, regresso ao trabalho, novas rotinas, pouco descanso, muita coisa para assimilar, enfim, uma canseira…

Embora tudo esteja a correr bem e esta continue a ser claramente uma das fases mais cool da vossa vida, a verdade é que já mereciam umas férias. E eis que, finalmente, elas aí estão.

Há pelo menos um mês que andas a contar para trás. Já só te cheira a praia, a piscina, a churrasco, a programação televisiva medíocre e a muita galhofa e sestas à sombra com a tua criança. Tudo reluz naquele final de tarde de sexta feira em que desligas o computador para só o voltares a ligar dali a 15 dias. O caminho para casa é feito a cantar e a planear (pela 67ª vez) como é que vais convencer a mãe da criança a deixar-te transformar a varanda da vossa casa de férias numa piscina. Entras em casa com a maior vibe de sempre, trocas-te, qual Clark Kent, para a tua farda de verão e pensas: vamos lá andar com isto que eu ainda quero lá ir jantar! E a partir daqui, e até estarem confortavelmente instalados no vossos destino, tudo é um aglomerado de lembranças escuras e nebulosas que tu desejavas poder apagar da tua mente.

Pois é, no meio de tanta alegria não pensaste que, se ir passar férias com um cão de quase 40Kg e um gato já envolve uma logística exigente, acrescentar a isto uma criatura humana de pequenas dimensões (ainda para mais a primeira) e toda a sua parafernália, transforma tudo isto num pesadelo logístico digno de ser promovido a modalidade olímpica.

Senão vejamos: vai a cama de viagem (que vai lá ficar, menos mal), a cadeira da papa (sim, aquela toda xpto que custou um balúrdio e que ocupa dois terços da parte de trás de uma Vanette), o carrinho, a banheira, o colchão (para a criatura não estranhar a cama e não vos dar cabo das férias por passar a noite acordada e de goela aberta), as tralhas da praia que, para além dos brinquedos, envolvem também todo um projecto arquitectónico de protecção que materializaste em 5 chapéus de sol e 7 corta-ventos, e depois o normal: malas para dois adultos e uma criança, um ou dois sacos com compras para os primeiros dias e um cão (que só por si já ocupa o porta bagagens quase todo), sendo que o gato, como também já precisava de umas férias, ficou em casa à guarda dos amigos da frente.

Ora, fazer caber esta meia dúzia de coisas dentro de um veículo utilitário é mais ou menos como fazer caber uma vaca adulta dentro de um tuktuk, já para não falar da quantidade absurda de viagens de elevador que toda esta mudança envolve, todas elas muito pouco confortáveis, principalmente para o desgraçado do elevador, que ao fim da terceira viagem até já dificulta mais a abertura das portas, para ver se nós desistimos e levamos o resto pelas escadas.

Como diria o grande Caco Antibes: uma visão do inferno!

E tu que só querias umas férias…

Mas nada temam! Numa atitude altruísta de quem já deu o peito às balas, levou umas fogachadas valentes, mas não faleceu, vou deixar-vos aqui algumas dicas que vos podem ser úteis não só na poupança de algum tempo e combustível (sim, aqui o tanso acabou por fazer duas viagens) como, acima de tudo, na preservação de umas boas camadas de nervos:

1 – Dependendo da idade das crianças, as férias podem funcionar como um ótimo descomplicómetro, fazendo com que alguns objectos volumosos e que achávamos indispensáveis, como a banheira, deixem de ser estritamente necessários. Na verdade no poliban também se dão excelentes banhos, e não é que a criança adora? Banheira down.

2 – Experimentem a cama de viagem com e sem colchão antes de irem de férias. Se a criança se adaptar bem a dormir lá sem o colchão da cama dela, é menos uma coisa (a Zippy vende colchões de viagem dobráveis a 20€, que também podem ser uma opção). Colchão down.

3 – E se eu vos dissesse que aquela cadeira da papa que o IKEA vende a 15€ (e que desmontada praticamente não ocupa espaço) é quase tão jeitosa como aquela que te custou um balúrdio e que é um pincel para transportar? Cadeira da papa gigante down.

4 – Tens uma criança pequena, vais para descansar, não vais sair à noite todos os dias nem precisar de 15 outfits diferentes por semana. Aposto que não vais vestir nem calçar 80% do que estás a pôr na mala. 80% do volume da mala down. (Sim, eu fiz as contas.)

5 – Vai desmontando o carrinho até te conseguires lembrar onde é que tudo o que já tiraste encaixa. Parecendo que não, sem rodas, sem barras e separado da cadeira aquilo até se arruma bem.

E eis que, ainda que prestes a explodir, temos um automóvel em condições de transitar e com toda (ou quase toda) a família e seus pertences lá dentro.

Querem provas de que isto resulta? Nós fomos em duas vezes e voltámos só numa. Agora pensem…

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