Os homens e os carros



A relação entre os homens e os carros devia ser objecto de um estudo científico aprofundado. A evolução que esta relação sofre ao longo das nossas vidas é tão rica que, bem analisada e esmiuçada, tenho a certeza que cabia dentro da própria teoria da evolução das espécies. 

Debrucemo-nos então sobre ela, a fim de confirmarmos esta minha ideia (e prometo que no fim falaremos de algo realmente útil e interessante, para variar):

- Dos 0 aos 2 anos: só precisamos que os carros não saibam muito mal, porque, invariavelmente, vão acabar na boca;

- Dos 2 aos 3 anos: os carros querem-se coloridos, cheios de sons (daqueles que levam os papás à loucura) e bem resistentes, tantas são as vezes que vão ser arremessados de força contra tudo e mais alguma coisa;

- Dos 3 aos 5 anos: já queremos um carrinho grande onde nos consigamos enfiar e andar a passear pela casa a moer a paciência ao cão e ao gato e a acabar com os tornozelos do pai e da mãe;

- Dos 5 aos 10 anos: Carros telecomandados! Quanto maiores forem e mais pilhas gastarem melhor;

- Dos 10 aos 18 anos: Carros = Fast&Furious + Need For Speed + Grand Turismo;

- Aos 18: Quero um granda bote, com um granda som, todo quitado;

- Aos 18 e meio: Ok, não precisa de ser muito caro, basta que seja recente e que tenha um granda som;

- Aos 19: Pronto, pode ser esse Punto de 95. Eu depois arranjo uma daquelas cassetes que dá para ligar ao mp3. Desde que caibam 6 gajos lá dentro e mais dois no porta bagagens e dê para chegar até ao Urban, tá' bom;

- Aos 20: Só quero um carro com espaço (in)decente nos bancos de trás;

- Aos 25: Já ninguém me paga a gota, só quero uma porcaria qualquer que gaste pouco;

- Quando és pai: 3 rodas ou 4? Alcofa sim ou não? É preciso rodas amovíveis? Pega contínua ou separada? Rodas de plástico ou de borracha? Tudo da mesma marca ou de marcas diferentes?

A verdade é que, de todas as vezes que troquei de carro ao longo da vida (e ainda forma umas quantas, agora que penso nisso), não me lembro de alguma vez ter pensado tanto, feito tantas contas e analisado tanto pormenor diferente como quando fomos escolher o carro para esta criança.

A escolha é muita, tanto a nível de marcas como a nível de modelos (e preços). Desde os modelos mais simples das marcas mais baratas a rondar os 200€/300€ até às ordinarices do costume a ultrapassar (à vontade) os 1000€, há bólides para todos os gostos e carteiras, o que torna esta escolha quase mais difícil do que a do nome da criança.

Por motivos óbvios (ou seja, porque nenhuma marca me paga para tal) não me vou atirar a dizer o que é melhor ou pior. Ainda assim, e para este post não ser totalmente inútil, vou tentar trocar por miúdos o conceito base da coisa e as preocupações que, após experiência própria, considero que sejam a principais a ter em conta.

Então vejamos, o básico (na maior parte dos casos) é simples de explicar: a criança recém nascida precisa de onde assentar a bufunfa, e para isso existe o “ovo” (que serve para transporte e para colocar no automóvel); o “ovo”, para não andar de rojo pelo chão nem a massacrar os ombros do pai (que entretanto já não treina há uns meses), precisa de rodas, e é para isso que serve o “chassis” (a armação com as rodas); como não é aconselhável que a criança passe muito tempo no ovo (por causa da posição), existe a alcofa (onde a criança está completamente deitada) e que pode colocar no lugar do “ovo” no "chassis", mas que não pode ser utilizada no carro (também existem, e até é o nosso caso, “ovos” que esticam e se transformam em alcofa quando necessário); por fim, quando a criança começa a ser grandinha para o “ovo” existe a cadeira de passeio, que o substitui, também assentando no "chassis" (esta cadeira normalmente vem sempre com o “chassis”). O “ovo” é preso ao automóvel através do cinto de segurança ou, para quem quiser uma opção mais prática e não se importar de gastar uns cobres, através de uma base (ISOFIX) que se instala no automóvel e depois é só encaixar o “ovo” em cima. Pode ser tudo comprado da mesma marca ou fazer-se combinações entre marcas diferentes (as que permitem adaptação).

Resumindo e baralhando, inicialmente é:

Necessário – “Ovo”, “chassis” e cadeira de passeio

Opcional – Alcofa e base ISOFIX

Como em tudo nesta vidinha, há opções melhores e piores, há coisas com mais ou menos qualidade. O essencial é que pensem bem na utilização que vão precisar de dar às coisas antes de gastarem o dinheiro (que não é pouco). Vão passar a vida em calçadas e terrenos sinuosos? Mais vale investirem um pouco mais num “todo o terreno” com rodas de borracha (e/ou amortecedores), caso contrário começa a ficar cheio de folgas e vai à vida num instante. Casas/Carros/Elevadores pequenos? Procurem uma opção fácil de desmontar e com rodas amovíveis? Problemas de costas ou de força nos braços e no tronco? Procurem coisas mais leves (não se esqueçam que aquele “ovo” em que estão a pegar está vazio, mas depois vai ter um leitão com 3, 4, 5Kg lá dentro). E claro, não descurem a segurança da coisa, parecendo que não é a vossa criança que vai “passar a vida” lá dentro.

Nós, como somos pessoas de laréu, de andar constantemente por todo o lado com a criança atrelada a nós, e, felizmente, não temos grandes limitações físicas, procurámos um compromisso entre a segurança, a robustez, a “praticidade” e um preço que não fosse demasiado ordinário, descurando um pouco a questão do peso. Resultado: “chassis” e cadeira de passeio Buzz Xtra da Quinny, “ovo” Cloud Q da Cybex (transforma-se em alcofa) e base ISOFIX. Fica o exemplo.

E pronto, aqui ficou alguma informação “útil”, para variar um bocado da fossa séptica de conteúdos que habitualmente é este blog.

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